Yet to come
Olhou-se demoradamente no espelho apreciando os seus descarados cabelos brancos de despontavam sem pedir licença.
Pintá-los-ía novamente?
Não sabia se ía conseguir essa proeza de assumir os seus cabelos brancos, mas iria tentar.
Sentia-se ilhada.
Queria estar assim.
Os tempos revolviam-se e espumavam como ondas que batem freneticamente na costa.
Os pensamentos também.
Decidira afastar-se de tudo o que não presta.
Decidira afastar-se de todos os que não prestam nem lhe dão alegria.
Passara demasiado tempo na mentira do superficial, acalentando esperanças vãs de que um dia os ventos correriam a seu sabor.
Foi tudo uma tremendo ilusão, uma penosa ilusão.
Hoje, sim talvez apenas hoje tenha coragem para assumir toda essa mixórdia de sentimentos contraditórios, escapatórias e bengalas menos claras, qualquer uma, desde que a amparasse.
Coragem para dizer que não foi ELA durante uns largos tempos.
Coragem para dizer que nem sempre vale a pena esperar por tempos melhores ou por melhores atitudes.
Coragem para se assumir como é.
Pena que ninguém a conheça verdadeiramente.
O ter querido ser aquilo que os outros querem de nós, nunca dá resultado.
Não deu, nem dará.
Fica a dor, agora adormecida, e o terreno vasto que tem para desravar.
Sem qualquer misericórdia ou compaixão.