Desde sempre que sou uma observadora da atitude humana nas suas mais diferentes facetas.
Nas férias, presenciei três pequenos episódios que gostaria de convosco partilhar.
No estacionamento de um shopping, saio lentamente no meu carro, curvo á esquerda e vejo que à minha frente está uma fila; tendo ficado a tapar uma passagem para dentro do parque, passagem essa com stop, faço marcha atrás para que esses carros entrem, já que eu não conseguia avançar - havia fila, recordam-se? Ora, qual não é o meu espanto, quando sou buzinada fortemente pelo carro detrás, com direito a gestos ferozes para mim (e para o stop - não vês minha burra que nós temos prioridade??? devia ser o que me queria dizer....) e abanões de cabeça por parte duma mocinha cheia de pressa, encafuada num daqueles carritos do século passado.
Olhei para o retrovisor e sorri.
A fila entretanto avançou e avançamos também.
Esta situação não tem nada de novo, mas evidencía vários aspectos:
1. A menina não era educada;
2. Não detinha o conhecimento total: Ela não sabia que havia fila;
3. Concluiu precipitadamente: Deduziu imediatamente que eu fosse uma "anormal" por estar a dar passagem a carros que tinham um STOP!
4. Manteve-se ignorante: Seguiu o seu caminho, sem sequer colocar a hipótese de que poderia ter acontecido algo que ela desconhecia;
5. Faltou-lhe Confiança
Esta pequena narrativa revela o que muitos de nós somos no quotidiano - nunca damos o benefício da dúvida a ninguém. Nunca vemos que pode sempre haver outra razão/causa para uma situação.
Não perderemos todos com esta falta?
Numa Clínica Médica, após algum tempo de espera, lendo revistas do ano passado (e ainda assim descobrindo algumas fofocas), começo a ouvir um misto de inglês, português e uma qualquer outra língua nórdica, numa fala completamente atabalhoada e num tom mais alto do que o costume para uma clínica. A figura, uma senhora altíssima, magérrima, cabelo curto e loiro, envergando um top vermelho com riscas brancas e umas calças de ganga com dobra até ao joelho, aparentava não ter menos de 70 anos. Altiva mas sorridente, ao balcão de atendimento, tentava aprofundar algumas questões, como o preenchimento de uma ficha em português que não entendia, quando seria o pagamento do acto médico e se em multibanco ou cash. Algo que não parava de dizer é que o médico a conhecia há 25 anos e que não havia necessidade de preencher qualquer documento. O rapaz que a atendia, começou a falar num tom mais alto, em português, como é comum vermos nos filmes, para ver se a senhora o entendia. Ela não percebia patavina.
Não contente com isso, esse mesmo rapaz, sempre que a senhora não o visse, ria-se e olhava para os restantes presentes como quem diz "Esta é maluca!"
Conclusão: o que este rapaz não percebeu é que quem é maluco é ele:
1. No atendimento, nunca devemos demonstrar o que quer que seja da nossa opinião pessoal, quer para o nosso interlocutor directo, muito menos fazer comentários ou caretas de desagrado ou gozo para a plateia. É uma falta de profissionalismo.
2. E já agora, vá prender inglês!
3. Nem sei como a senhora conseguiu fazer os exames!!!!
Numa estação de serviço entre o Algarve e Lisboa, os meus filhos decidem que querem comer o 3º gelado do dia.
Sem forças para os contrariar, lá paramos e saímos para os comprar.
Como era de esperar, fila para tudo: wc, café, lanche e, claro, gelados!
Com paciência, ficamos na fila, onde todos reclamavam o excesso de tempo para pagamento.
Entretanto, uma das crianças vê um stand da Olá e claro desata a correr e confirma: ali não há fila! Maravilha - dei-lhe umas moedas e lá trouxe os gelados. Com a precipitação, enganou-se no gelado da irmã. Saí da fila do café e fomos trocar o gelado. Quando encaramos a senhora dos gelados e lhe pedimos para efectuar a troca por outro, começou a confusão: a senhora explicou-me várias vezes o procedimento de entrada e saída de stock e que não poderia fazer a troca de algo que tinha sido para há menos de 40 segundos. Nunca falei para a senhora, mas ela insistentemente dizia "A senhora tá a perceber?" Calmamente disse-lhe: "Minha senhora, nós não nos vamos incomodar por uma troca de gelados, pois não? Faça favor de trocar agora, antes que derreta."
Entre dentes continuou a ruminar as palavras "stock", "entrada" e "saída", arrancou o talão de compra da máquina e lá procedeu á troca.
Despedimo-nos "Obrigada pela a atenção" e ela com uma cara de tédio e fúria, nem nos olhou.
Agora eu pergunto: para quê toda esta confusão para trocar um calipo por um perna de pau?
O que é que ela ganharia em não trocar?
Que regra estaria a quebrar na cabeça dela?
Nunca saberei.
Uma coisa sei - a senhora que ali estava não queria tornar a nossa tarde agradável!
É um país de Espertos, Sabichões e Empecilhos - com estas Atitudes não vamos longe.