Lentidão
"Atrasando o correr da sua noite, dividindo-a em diferentes partes separadas umas das outras, a senhora de T. soube imprimir ao escasso lapso de tempo que lhes coubera como que uma pequena arquitectura maravilhosa, como que uma forma. Imprimir forma numa duração, tal é a exigência da beleza, mas também da memória. Porque o que é informe é inapreensível, imemorizável. Conceber o seu encontro como uma forma foi para ambos muito particularmente precioso, visto que a sua noite ficaria sem amanhã e só na lembrança poderia repetir-se.
Há um elo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento. Evoquemos uma situação extremamente banal: um homem caminha na rua. De repente, quer lembrar-se de qualquer coisa, mas a lembrança escapa-lhe. Nesse momento, maquinalmente, o homem atrasa o passo. Pelo contrário, alguém que queira esquecer um incidente penoso que acaba de viver acelera sem dar por isso o ritmo da sua marcha como se quisesse afastar-se depresa do que, no tempo, lha está ainda demasiado perto.
Na matemática existencial, esta experiência assume a forma de duas equações elementares:
O grau da lentidão é directamente proporcional à intensidade da memória;
O grau da velocidade é directamente proporcional à intensidade do esquecimento."
In A Lentidão, Milan Kundera
Esta pequena passagem do livro de Milan Kundera, remete-nos para a palavra Paulatino, Paulatinamente e outras derivações.
Segundo o dicionário, Paulatinamente é um Advérbio
pau.la.ti.na.men.te
- de modo paulatino
- pouco a pouco, devagar, vagarosamente, com lentidão
Tal e qual Saturno que demora 29 anos para dar a volta ao sol e todos as pessoas por ele regidas, para quem acredita nestas coisas.
Podia escrever aqui dezenas de frases feitas acerca desta palavra: Devagar se vai ao longe, Tudo o que demora a conquistar sabe melhor, Devagar e sempre, etc, etc.
Mas aderi tão bem a esta conjuntura lenta que ajo paulatinamente, diria que beirando a perguiça e não me pronuncio mais acerca deste tema.
Por agora.